sábado, 4 de junho de 2011

Eu, Caetano e o elevador

Era o ano de 1998 e eu trabalhava em uma produtora de cinema que se associou a outra produtora, cujo sócio era o Caetano. Ele mesmo, o Veloso.
Foram dias difíceis para mim.
Como conviver normalmente com ele, eu pensava?
Não vou conseguir trabalhar quando ele aparecer. Não vou conseguir concentrar, usar o computador ou até mesmo falar ao telefone.
Ídolo é ídolo, não é bom se aproximar muito.
Meu chefe dizia: fique tranqüila, ele é como a gente, tem bom humor, tem mau humor, tem fome, tem sede, tem dor de cabeça, essas coisas que todo ser humano tem.
Ok, eu dizia, entendi. Mas ele não era igual a mim não, nem era igual a ninguém que eu conhecia...

Já pensou se de repente o Mick Jagger muda-se para o apartamento ao lado do seu?


Toda a fantasia desce pelo ralo ao ter o seu ídolo como uma pessoa normal.
Bom, deixando Mick Jagger de lado e continuando com Caetano, era época de produção do filme Orfeu, de Cacá Diegues, onde Caetano fazia a trilha sonora.
Nunca era tranqüilo encontrá-lo. Eu sempre ficava nervosa, vermelha, perdia a fala, ficava muda, surda, essas coisas de fã.


Aos poucos fui conseguindo cumprimentá-lo, pois ele sempre muito educado, me cumprimentava e ainda dizia o meu nome!
Nossa, eu quase morria.
Até que um dia, quando eu chegava esbaforida e super atrasada, encontrei com ele na espera do elevador. Era um prediozinho antigo no Leblon e o “nosso” ( olha que metida!) escritório era na cobertura. Parei ao lado dele, que me cumprimentou como sempre e eu apenas sorri. Por total 'mudice'.
Era a minha chance de falar alguma coisa, de puxar um assunto qualquer, mas quem disse que eu conseguia?
Respirei fundo, me armei de toda a coragem e falei:
- Estou adorando o seu livro (era verdade, eu estava lendo Verdade Tropical) e adorei a historia da escolha do nome da Maria Bethânea.
Ele sorriu baianamente agradecendo meu comentário elogioso e começou a falar dessa escolha do nome, AO VIVO, me contando como foi.
O elevador chegou, entramos (só nós dois) e ele continuou. Não deu para interagir muito pois o elevador fazia muito barulho com sua porta pantográfica. Chegamos e nos despedimos.
Além de atrasada, fiquei agitada, enrolada com os papéis que deveria mexer e demorei um pouco para me acalmar. Depois tudo passou e o dia foi voltando ao normal, até que minha amiga perguntou:
-Já pensou se o elevador enguiçasse? Ou se faltasse luz?
Só em pensar, fiquei nervosa de novo, mas isso é uma outra história.
Ainda bem que ele não aparecia muito no escritório. Só fui vê-lo de novo no set de filmagem alguns bons dias depois. Tentei ser normal e acho que consegui.
Consegui por fora, por dentro meu coração batia mais forte.



Mas isso ele nem precisava saber...

2 comentários:

  1. rsrsrsrsrsr adorei a história!
    Nos anos 80 quando fiz o curso do Asdrubal com a Regina Casé e o Luis Fernando, passei um fim de semana na casa da Lidoca em Ipanema. No sábado ela me convidou pra ir na casa da Regina e qual não foi a minha surpresa quando di de cara com o Caetano. Ele é que abriu a porta! Fiquei que nem vc. Boba, surda, muda. Tão idiota que quase não lembro de nada. Ele tocou violão, falou da facilidade que ele tinha de assoviar...
    beijo

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  2. Sua historinha também é muito boa!! Uma delícia. beijos

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