sábado, 26 de dezembro de 2009

O Bloco e a Procissão

Este texto foi escrito em 2007, publicado na Revista de Domingo do JB em 2008 e selecionado para o livro "Palavras da Alma e do Coração", uma antologia de autores brasileiros, lançado pela Editora Litteris agora em 15 de dezembro último.

Ipanema, final de tarde. Inverno.
Inverno? Bom, no calendário sim, mas na praia o sol brilhava.
A água, é verdade, estava gelada. Mas o mar convidava para um bom e fortalecedor mergulho.
Hora de ir para casa. O sol já estava se pondo, um ventinho frio começava a soprar. De repente uma batucada alta e animada.
O que é isso? Alguém perguntou:
Respondi: É o bloco “Simpatia é quase amor”.
Como? Não é carnaval.
É o carnaval do PAN, continuei. Eu tinha lido no jornal.
Então não era hora de ir para casa. Tinha que esperar o bloco passar. Tomar uma cerveja com as amigas, comer um milho, essas coisas boas da praia. Esperar o trânsito acalmar.
Continuamos o caminho em direção a Lagoa.
De repente muitos balões brancos no ar, uma Ave-Maria rezada em coro.
O que é isso? Alguém perguntou:
Pensei ...
E lembrei: Hoje é dia de Nossa Senhora da Paz.
A Igreja e a Praça pela qual passávamos naquele exato momento.
Ler o jornal na praia é um programa que adoro.
Atravessamos a procissão para que pudéssemos chegar ao outro lado. O hino nacional foi entoado e cantado por mim e por essa pequena multidão após a ave-maria.
Fogos de artifício começaram a estourar, os sinos da igreja começaram a tocar
e as lágrimas começaram a escorrer.
Era muita emoção.
Respirei fundo, procurei a câmera mas só achei o celular.
Foi nele mesmo que pude registrar não o profano, que esse está no pensamento, mas sim o sagrado que circulava ao lado um do outro com a mesma festa, a mesma alegria e a mesma emoção.
Ipanema – Rio de Janeiro.
Inverno?

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