Quando eu era criança, por volta dos 8 anos, morávamos em uma casa grande, linda, amarela e branca que ficava em uma ladeira de paralelepípedos, em frente a um ginásio de esportes que nos finais de semana passavam filmes. Sábado à noite para os adultos e domingo à tarde era o dia da sessão infantil.
Este lugar era conhecido como o Cinema da Quadra.
Levávamos nossas almofadinhas e sentávamos naquelas arquibancadas geladas de cimento liso e eu ficava ansiosa esperando tocar a música de início e o apagar das luzes, até que aquela tela enorme ia me envolvendo de tal forma que eu literalmente voava...
Mas o que eu mais gostava era o sábado à noite quando minha irmã mais velha do que eu, ia ao cinema com seus amigos e o namorado e eu ficava escutando o filme debruçada na janela do meu quarto que dava para a rua. Olhava para o céu cheio de estrelas e ficava imaginando o que aqueles atores estavam dizendo em inglês sobre aqueles amores incríveis, com beijos ardentes e histórias inesquecíveis.
Mas acho que descobri de verdade o gosto pelo cinema quando assisti Amarcord, de Federico Felinni, já no final da adolescência e Bye Bye Brasil, de Carlos Diegues no início dos anos 80.
De lá pra cá foram infinitas sequencias de filmes e aprendizados ao longo da vida.
Preferências escancaradas por determinados diretores, fascínio por alguns roteiristas, atores preferidos, ídolos lindos, diretores de artes geniais e figurinistas que sabem o que fazem. E o som, meu Deus, aquela trilha sonora composta e estudada para nos embalar durante a sessão.
Mas só estou contando essa história para falar de Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen. Allen faz parte da lista dos meus diretores preferidos.
Adorei o filme. Descobri que sou Vicky e Cristina ao mesmo tempo. Talvez todas nós mulheres sejamos um pouco Vicky e Cristina.
Nos entregamos totalmente à aventura, ao sexo e as paixões e depois questionamos todos os conceitos de amor, de fidelidade, de relacionamentos perfeitos, de companheirismo ..... essas coisas que fazem parte do pensamento feminino.
E a insatisfação, de alguma maneira acaba chegando sem ao menos sabermos direito o porquê.
Talvez, como diz Vicky, Cristina ainda não encontrou o caminho certo do coração e vive se perdendo em relações cada vez mais diferentes umas das outras. Sem parâmetros.
Mas se não for assim, como será que é então?
E Vicky, toda certinha e com a certeza de que encontrou o amor para casar e ser feliz, vê de repente tudo se desconstruindo.
E agora?
De qualquer forma, Woody Allen acertou a mão com este filme totalmente solar, sensualmente latino, com locações e elenco lindos de morrer e as eternas questões do ser humano em relação ao amor.
Vamos em frente.
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